“Olha, já vieram as queijadas!”

Exclama uma senhora, espreitando da rua. Desaparece um instante e retorna munida do marido, do filho adolescente, e de um sorriso guloso. Vê-se que aquelas queijadas não as encontra noutros lados. O Sr. Tavares atende-a com atenção e simpatia, e da familiaridade no diálogo nota-se que é uma cliente regular: “Para o menino, aquelas gomas?”

O pai e a mãe entreolham-se. Parece que “o menino” fez uma falcatrua essa manhã. A loja torna-se então lugar de debate sobre a natureza da transgressão, do castigo e da educação. Conversam. O rapaz, de olhos no chão, aguarda a sua sentença. Entretanto, uma dúzia de miúdos da sua idade, ávidos de guloseimas, inundam o pequeno espaço de alegria e agitação. Só o Sr. Tavares permanece sereno. Conhece-os bem a todos, aos gostos de cada um, da mesma forma que conhece os lotes de café que, mais tarde, os pais vêm buscar. A maior parte da clientela é regular, fidelizada pela qualidade dos produtos e boa atmosfera. 

Esta Pérola abriu em 1938, no mesmo ano da sua vizinha Casa Xangai, no contexto de umas Avenidas Novas que se desdobravam em novos hábitos e reinventavam a cidade, expandindo-a. O fundador, Isidoro Teixeira, trazia a experiência e o selo de qualidade da já bem sucedida Carioca, no Chiado, outro lugar de referência para lotes de café e uma ampla selecção de chá. Hoje, a grande mais-valia desta loja, além do chá e do café, e de tudo o que precisa para fazer chá e café (cafeteiras, balões de vidro, bules, infusores, etc) é a oferta de produtos regionais. Poucas outras casas reúnem tantas maravilhas da nossa produção nacional, e lhe dão este destaque: bolachas e biscoitos da Fábrica Paupério, poncha da Madeira, ginginha do Marvão, ameixas d’Elvas, rebuçados da Régua, súplicas de Aveiro, areias de Sintra, peixinhos de Azeitão, aguardentes e licores, compotas e mel – é uma volta ao país em deleites vários.

Conteúdos: Lojas com História

Laurentina é uma marca de cerveja popular em Moçambique, e já o era antes da independência, em 1975. Nesse período, todos aqueles que foram forçados ou escolheram voltar encontraram aqui um ponto de encontro. António Francisco Pereira escolheu voltar e continuar em Lisboa o seu bem-sucedido negócio de restauração, o mesmo que tinha em Lourenço Marques, no Alto Maé. Curiosamente, teve de encontrar um novo nome porque o que queria usar não só já existia como é também hoje uma Loja Com História – o Restaurante Leão D`Ouro. Em 1976 tomou de trespasse a galegos uma carvoaria situada na mesma rua do actual restaurante. À morada actual chegou em 1987. Junto a ele esteve sempre Jaime Vieira, hoje o funcionário mais antigo da casa.

Continuaram a ser os reis do bacalhau neste lugar onde claramente o bacalhau é rei. Di-lo a decoração do espaço, os objectos de comunicação e a devoção na ementa. A especialidade da casa vem da Beira Baixa, de onde origina o fundador - couvada de bacalhau servida em caçoilas (tachos de barro). Mas aqui o bacalhau brilha de mil maneiras diferentes. 

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